Frei Galvão - O primeiro Santo brasileiro

O primeiro brasileiro nato a ser declarado santo pelo Vaticano, Antônio de Sant’Ana Galvão, o Frei Galvão, nasceu em 1739, na vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, pouco mais de 200 km da Vila de São Paulo. Morreu em São Paulo, em 23 de Dezembro de 1822. Quarto filho (de onze irmãos) de família que gozava de prestígio social e influência política (o pai era capitão-mór da vila e a mãe filha de fazendeiros e bisneta do bandeirante Fernão Dias Pais, o “caçador de esmeraldas”). Viveu com seus irmãos em uma casa grande e rica. Por querer dar-lhe uma boa formação humana e cultural, o pai o mandou para o Colégio de Belém, dos padres jesuítas, na Bahia. Queria tornar-se jesuíta, mas a perseguição movida contra a Ordem pelo Marquês de Pombal o fez entrar para a Ordem dos Franciscanos. Designado confessor das “Mulheres Recolhidas de Santa Teresa”, em São Paulo, conheceu Irmã Helena Maria do Espírito Santo, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento. Frei Galvão buscou o conselho de pessoas sábias e esclarecidas, apresentou o caso às autoridades eclesiásticas e no dia 2 de Fevereiro de 1774, fundou então o novo Recolhimento, hoje conhecido como Mosteiro da Luz, declarado “Patrimônio Cultural da Humanidade”, pela UNESCO. Homem de muita e intensa oração, a Frei Galvão se atestam fenômenos místicos como êxtases e levitação. Também são famosos os casos de bilocação (estar em um lugar e aparecer em outro). Em tempos em que não haviam recursos e ciência médica, Frei Galvão era muito procurado para cura. Em uma dessas ocasiões escreveu em um pedaço de papel a seguinte frase em latim: Post partum Virgo Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis. “Depois do parto, Ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós!”. Enrolou o papel em forma de pílula e deu a um jovem que estava quase morrendo por fortes cólicas renais. Imediatamente cessaram as dores e ele expeliu um grande cálculo. Depois desse caso, muitos outros foram narrados. Frei Galvão ensinou as irmãs do Recolhimento a confeccionar as pílulas e dar às pessoas necessitadas, o que elas fazem até hoje. Frei Galvão está sepultado na igreja do Recolhimento da Luz e seu túmulo é local de contínuas peregrinações.

 

Relatos


Ainda durante sua vida, Frei Galvão era conhecido por realizar fatos prodigiosos, envolvendo controle das forças da natureza, adivinhações e o poder sobre o tempo. No decorrer dos anos, os relatos, passados de boca em boca, foram enfeitados ou enriquecidos pelos detalhes típicos da tradição oral ou imaginação fértil. Nas narrativas de bilocação, levitação ou premonição atribuídas a frei Galvão, revela-se o carinho que as pessoas guardam pelo santo, alguém que é especial, detentor de poderes extraordinários, muito próximo de Deus.

 

Manuel Portes e o milagre da bilocação


A história de Manuel Portes foi contada no livro “Frei Galvão, Bandeirante de Cristo”, edição de 1954, identificando sua autora apenas por Maristela, Editora Vozes, Petrópolis/RJ. O fato já ocorria há dezenas de anos quando foi relatado pelo grande historiador das Bandeiras, Afonso Taunay, e envolve em mistério a presença de Frei Galvão nas barrancas do Rio Tietê, no distrito de Potunduva, ainda hoje, distrito de Jaú. Segundo relatos, por volta de 1810, Manuel Portes, então capataz de uma monção que vinha de Cuiabá, acampou com sua tropa no porto do povoado de Potunduva. Manuel Portes era um mameluco enérgico e violento, que se deixava dominar pela ira com frequência. Seus subordinados o temiam, pois não exitava em castigá-los da forma mais dura. Tinha queixas de um de seus homens, Apolinário, caboclo indolente e indisciplinado. Já havia sido repreendido várias vezes durante a viagem, mas o caboclo não se emendara. Fazendo sua ronda costumeira após o desembarque dos homens e equipamentos, apanhara novamente o caboclo Apolinário em falta. Levado pela raiva, tomou uma açoiteira e o chibateou rijamente. Pouco depois, estava Portes conversando com um de seus homens quando, inesperadamente, sentiu forte murro às costas. Voltando-se, viu Apolinário que fugia empunhando enorme facão. Devido a grande hemorragia, Manuel Portes logo caiu e clamou por Frei Galvão para fazer sua confissão. Subitamente, no meio do nada, apareceu a figura de um padre que todos os homens da monção, estarrecidos, logo reconheceram como sendo Frei Galvão. Depois de tomar a confissão de Manuel Portes, afastou-se e sumiu da forma tão misteriosa como aparecera. Nesse mesmo momento, Frei Galvão que pregava em uma igreja em São Paulo, interrompeu a celebração para pedir que todos orassem com ele pela salvação da alma de um cristão que, longe dali, estava agonizando. Manuel Portes foi sepultado no porto de Potunduva onde seus homens assinalaram o túmulo erguendo tosco cruzeiro que foi muitas vezes substituído, até que no local levantaram a capelinha de Frei Galvão.

 

Potunduva


Com o fim das monções, Potunduva e o porto foram abandonados. O único marco remanescente foi a Santa Cruz, na barranca do rio, exatamente no local onde relatam o milagre de Frei Galvão. Depois de muito tempo, em 1880, o presidente da então província de São Paulo veio visitar a área em companhia de um padre, e decidiu doar as terras para imigrantes italianos e espanhóis, ex-monçoeiros, que aqui se estabeleceram. Houve, então, a segunda ocupação de Potunduva, com a criação das fazendas São José e Santa Cruz de Araras. A fazenda que mais prosperou foi a Araras, que acabou formando Potunduva, que inicialmente se chamava Santa Cruz de Araras. Em 1922, com a instalação da primeira agência do correio, era preciso registrar um nome para o povoado, que passaria a receber e enviar correspondências. Como já existia um município de Araras, foi feita uma consulta entre os moradores e a escolha do nome foi Potunduva, que já era o nome do porto. Em 13 de Novembro de 1928, o deputado jauense Hilário Freire, propõe – e consegue – que o povoado de Potunduva seja elevado à categoria de Distrito. Sete anos depois, em 29 de Julho de 1935, em cerimônia oficial, foi instalado o Distrito de Paz de Potunduva, que acabou sendo a data em que se comemora o aniversário do Distrito.