O guerreiro negro

Por Toninho Cury

Francisco de Paula Victor nasceu em Campanha, MG, aos 12 de abril de 1827. Negro, filho da escrava Lourença Justiniana de Jesus e pai desconhecido, viveu humilhações desde o nascimento e durante seus estudos sacerdotais. Todos, na época da escravidão no Brasil, duvidavam que, negro, descendente de escrava, concluiria os estudos para padre. Muito sofreu nas mãos dos amigos da escola sacerdotal. Foi apelidado de “negro beiçudo” e, desacreditado por seus superiores, no tocante ao futuro, devido sua cor. No ano de 1851, Francisco era ordenado padre exercendo seu primeiro ministério em Campanha, sua cidade natal. Lá permaneceu até 1852, onde foi transferido à freguesia de Três Pontas, também em Minas Gerais, como “vigário encomendado”. Na época, os “barões do café”, não frequentavam suas missas. Aos poucos, padre Victor foi ganhando a confiança dos “barões” até tornar-se pequena a igreja, tantas eram as pessoas brancas interessadas em ouvir suas mensagens e orações. Padre Victor foi forte, corajoso e capaz de enfrentar os mais difíceis obstáculos. Suas missas iniciavam às três horas nas madrugadas, aos escravos, e de manhãzinha celebrava outra aos “barões do café”. Foi fundador da escola “Sagrada Família”, em Três Pontas. Suas principais “armas” nas horas difíceis eram o crucifixo e a Sagrada Eucaristia. Faleceu em 23 de setembro de 1905, em Três Pontas, onde foi pároco durante 52 anos. Hoje, Três Pontas é considerada a maior produtora de café do mundo. Também é conhecida como “terra” do padre Victor. Tal patamar alcançado e lançado ao mundo, segundo historiadores e os mais antigos de Três Pontas, é quase total responsabilidade de padre Victor, que, através de sua dedicação como líder espiritual e conselheiro, conseguiu não só elevar de freguesia à cidade produtiva. Foi muita luta em cima de lombo de burro, em “picadas” empoeiradas, hoje grandes rodovias. Finalmente, em 14 de Novembro de 2015, Padre Victor foi beatificado na cidade de Três Pontas, Minas Gerais, se tornando o primeiro beato negro e escravo da história e, no futuro próximo, um santo negro, título que por lá já é real, com milagres e atos de fé. (TC)