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Dr. Waldir Troncoso Peres

Publicado sexta-feira, 24 de julho de 2009

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Aos 12 de Abril de 2009, o Brasil perdeu, aos 85 anos de idade, o Doutor Waldir Troncoso Peres, considerado um gênio na arte em advogar no júri, nos últimos 50 anos. Tive o privilégio em tê-lo como amigo bem próximo.

Esta proximidade deu-se ao fato de Waldir ser da mesma turma das “Arcadas”, de 1946, de meu tio, o Doutor Gabriel Cesário Cury. Nestas linhas, gostaria de relatar o outro lado do ilustre jurista, através de um ótica simples e pouco conhecida pelo público do meio jurídico. Como sempre fazia nas viagens à capital paulista com meu tio Gabriel, íamos ao escritório do “espanhol”, como era carinhosamente conhecido pelos mais próximos, tomar um cafezinho. Em seu escritório no centro, sempre havia um estagiário, a secretária e uma velha senhora, se não me falha a memória com o nome de Nair. Era das mãos dela que saboreavamos um café mágico.

Também, essa velha senhora, segundo Waldir, era quem “mandava” em seu escritório. Sempre alinhada, de avental branco impecável, todos a respeitavam. Era tia do líder negro e político Abdias Nascimento.

À moda antiga, torrava e moía, ali mesmo os grãos de café, espalhando um delicioso cheiro em todo o prédio. Waldir sempre teve uma vida simples e dedicada ao direito penal. Dizia: “Sou incapaz de propor uma ação de despejo”. Será? Me lembro quando defendeu o cantor Lindomar Castilho, que assassinou a esposa Eliana de Gramond. Estivemos em seu escritório uma semana após o júri. Waldir disse: “O mais difícil não foi a promotoria nem o trabalho brilhante do Zé Carlos Dias, que atuou como assistente de acusação.

Foi o depoimento do cunhado de Eliana, o repórter esportivo (da então TV Globo), Juarez Soares. Se expressou tão bem em relação aos fatos, que, juro, foi um grande empecilho para mim. Suas palavras convenceram os jurados e quase me complicaram todo o trabalho.

Os 12 anos imputados a Lindomar, foi uma grande vitória para mim. Se o Juarez fosse advogado, morreríamos de fome”, concluiu o mestre. Austero e ao mesmo tempo brincalhão, provou em um júri, que a vítima não havia morrido dentro de um saco de estopa. Para isso, entrou de terno e beca em um saco semelhante, chegando na altura da cintura, provando que, um homem da mesma estatura que a sua, não cabia naquele saco, causando gargalhadas em todos naquele dia. Questionado sobre seu trabalho, dizia: “ele (apontando para a foto do saco) que absolveu o acusado, não eu”. Nunca acreditou na escrita sob forma de defesa. “Acredito na oratória. Os fatos devem ser contados olho a olho. As palavras que absolvem”. Por isso, Waldir era considerado o “Papa” das palavras. E que palavras...

 

Toninho Cury

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